
Frei ClƔudio van Balen
FĆ© e Cidadania


APELO DE MARIA - IRMĆ NO CARMELO
āNĆ£o detenhas amarrado
o pƔssaro destinado a voar.
NĆ£o deixes de fora
quem faz parte da famĆlia.
NĆ£o isoles do convĆvio
um membro da Humanidade.
Longe de toda maldade,
acolhe no amor quem busca
vida com felicidade.
Sê abraço fraterno
para os excluĆdos.
Nossa Irmã no Carmo pede:
Supera todo preconceito
e convida ao Banquete
todos os convidados
Ć Mesa da Vida.
Não desistas de ninguém:
Valoriza os humilhados,
reergue os mais sofridos.
Sê solidÔrio, constrói a Paz.
Leva Ć Festa da Vida
que Ć© para todos.
Se irmã, irmão no Carmelo.
Frei ClƔudio van Balen
Mensagens
A SENHORA DO CARMO
UM TESTEMUNHO
Consta, no Evangelho, que Maria - mulher de fƩ - se deixou conduzir por uma
iluminação que lhe chegava pelos fatos da vida. Mais que estar presa a
um poder imposto, ela amargava os fatos em seu coração, em clima de fé
solidÔria. Como tantas outras mães, participava dos desafios da vida,
não se deixando manipular pela alienação. Maria preparava seu filho para
ser testemunho a inspirar o povo indefeso em meio Ć opressĆ£o polĆtica e religiosa.
āDepĆ“s poderosos de seu trono e humildes exaltouā
De fato, algo de muito denso sucedeu em sua trajetória, quando sentia o chamado para a missão com exigências ainda desconhecidas. Na fé, a serviço de seu povo, elevava-se muito acima da passividade feminina em vigor. Passou pela gravidez sem submeter-se ao esquema humilhante do padrão patriarcal. A força libertadora de Deus, qual vento e fogo, a conduziu. Graças a essa riqueza da fé, seu filho pÓde se preparar para cumprir a tarefa que lhe ia caber na história de seu povo, da humanidade.
āCumulou de bens famintos e despediu ricos de mĆ£os vaziasā.
O que Maria nos tem a dizer, em dias de turbulĆŖncia cultural? Seu jeito de ser nos pode servir de inspiração? Bem que ela poderia ser uma entre tantas candidatas ao PrĆŖmio Nobel da Paz. No seu tempo, jĆ” havia relaƧƵes de subjugação entre o centro e a periferia. Os homens do poder, a serviƧo dos opressores, retinham para si o dinheiro suado dos trabalhadores. De forma autoritĆ”ria, promoviam a alienação e, com desprezo ao povo e Ć cidadania, distribuĆam cargos.
āSocorreu seu povo servidor, sempre atento Ć sua compaixĆ£oā.
Maria preparou seu filho para uma vida de atuação conscientizadora no meio das pessoas. O primeiro ingrediente foi ativar nelas a esperanƧa. No meio da tiririca crescem grama, trigo e flores. HĆ” tambĆ©m entre nós algo do sonho de Deus. Sempre. NĆ£o hĆ” mal que nĆ£o contenha alguma promessa. Ć preciso enxergar. Maria nos continua alertando: A presente denĆŗncia de tantos desvios nĆ£o merece nossa revolta com desistĆŖncia. Pelo contrĆ”rio, āOlhem o horizonte, hĆ” sinais de justiƧa maiorā.
āMinha alma engrandece o Senhor e transborda de confianƧaā.
Somos motivo de alegria para Deus na medida em que, atentos ao que jĆ” passou, aproveitemos novas chances, a fim de que ā cidadĆ£os - deixemos de esperar por um Messias, um salvador da pĆ”tria, mostrando-nos atuantes na vida social. NĆ£o hĆ” pessoa, nem partido polĆtico que, magicamente, sejam capazes de resolver nossos problemas. Requer-se de cada um ter uma visĆ£o clara e adotar uma atitude de compromisso social. Nosso Ć© o poder. Cada um participe, com sua visĆ£o, seu zelo.
āNĆ£o basta gritar: Senhor, Senhor!ā Ć preciso engajar-se.
O tempo presente pede que nĆ£o nos limitemos a um simples voto em eleição. Ć preciso participar de tudo o que nos diz respeito. Ć preciso lutar para que instituiƧƵes sirvam melhor ao povo. Ć preciso criar uma democracia realmente participativa, em que o verticalismo do poder seja substituĆdo pelo horizontalismo da cidadania. Ć preciso indignar-se. PorĆ©m, mais vale nĆ£o omitir-se, fazendo o que estĆ” ao nosso alcance. PresenƧa amiga, visĆ£o humanista, santa indignação, presenƧa em movimentos, cidadania cotidiana, gestos de inclusĆ£o.
āA senhora, tua mĆ£e, estĆ” aĆ. Ela deseja ver-teā.
A Senhora do Carmo quer ver cada um de seus devotos. Ver para estimular a nunca desanimar. Ver para confirmar na ousadia de nunca se omitir. Ver para dar um voto de confianƧa Ć atuação polĆtica sem jamais confiar o poder a corruptos. Ver para lembrar que o mundo e o Brasil jĆ” passaram por dias mais difĆceis. Ver para testemunhar que fĆ© anda de mĆ£os dadas com polĆtica. Ver para nos parabenizar por uma fĆ© engajada, pelo exercĆcio da cidadania a nos indignar contra toda forma de corrupção, participativos em iniciativas de mudanƧa e vigorosos na esperanƧa. Seja esta a nossa homenagem Ć Senhora do Carmo!
MAIS VALE UM GESTO QUE MIL RECLAMAĆĆES!
Frei ClƔudio

PRESĆPIO ā GRANDEZA SIMPLES
No passado, em meio ao luxo da Igreja, Francisco propĆ“s sobriedade. A partir de entĆ£o, vigora a versĆ£o de que Jesus nasceu em um āestĆ”buloā, sendo que o próprio Francisco abandonara o luxo da casa paterna.
HĆ”, no relato, algo que nĆ£o aconteceu ā gruta...ā porĆ©m Ć© āverdadeā,
da mesma forma, tanto para Francisco
como para Jesus ā na pobreza que abraƧaram.
Algo assim com relação a Maria: envolvida pelo EspĆrito, ela engravidou, nosentido de que seu filho, Ć luz da fĆ©,
se revelou āfilhoā de Deus de tĆ£o marcadopelo espĆrito ādivinoā. Ć luz da fĆ©, hĆ” gratuidade divina em toda concepção, sendo que a āvidaā emana do mistĆ©rio de Deus. E isso vale para toda pessoaque, neste mundo,
nasce de pai e mãe. Sim, aqui, hÔ algo mais.
Na história do povo judeu, hĆ” narrativas sobre pessoas que nasceram de mĆ£es infĆ©rteis ou idosas demais para poder gerar filhos. O que parece impossĆvel āaconteceā. Ć para salientar que a crianƧa nascida Ć© alguĆ©m com missĆ£o muito āespecialā. AliĆ”s, o povo judeu se originou de AbraĆ£o e Sara, muito idosos; Ć© o que simboliza
e confirma sua pertenƧa ao āPovo de Deusā.
Jesus, sendo especial, tem de ser gerado de forma singular. Se profetas nascem de mães estéreis, Jesus nasce de mãe virgem: não por vontade de um homem, mas pela vontade de Deus, como escreve o evangelista João.
Tal circunstĆ¢ncia simboliza o que Jesus realmente Ć©: Emanuel ā Deus-conosco.
Eis a lição: ao servir uns a outros, somos de fato āfilhos de Deusā.
Frei ClƔudio van Balen
