
Frei ClƔudio van Balen
FĆ© e Cidadania

Textos de Frei ClƔudio para dos boletins de missa
ReflexƵes
06 de julho de 2014
CELEBRAR A LEVEZA DA FĆ NO CAMINHO DO BEM
Pelo impulso do EspĆrito nosso coração se humaniza. O jeito de Jesus nos compromete com o bem comum. Pela forƧa da graƧa nos rejuvenescemos. Ć o amor que nos conduz em uniĆ£o fraterna e generosa colaboração.
āCUIDAR DA VIDA PARA QUE ELA SE TORNE PRĆSPERAā.
(Deut. 30, 19)
Seria correto dizer que ninguém se torna santo, somente porque assim programou, como ninguém se desvia para o crime, só porque assim quis? A linha divisória entre bem e mal é delicada ou perigosamente nuançada. à a vida que nos faz ou nós é que fazemos a vida? A cada um cabe a tarefa de elaborar um modo digno de lidar com seu existir.
Precisamos de bons orientadores. Volta e meia, na vida, hĆ” uma bifurcação que divide o caminho em duas direƧƵes opostas. A primeira pode nos parecer atraente enquanto a outra se mostra ameaƧadora. O caminho para o bem nos parece difĆcil, cheio de espinhos e obstĆ”culos, enquanto o do mal se nos apresenta pavimentado, florido e sedutor.
O primeiro caminho segue por uma paisagem leve e alegre, porém conduz a um terreno cheio de espinhos, pedras e serpentes. O segundo inicia com um matagal quase impenetrÔvel, mas, depois, desemboca em um ambiente aberto com passarinhos, Ôgua fresca e frutas, com um sol restaurador. Sem advertência, hÔ quem se deixe seduzir.
Perdido em seu egoĆsmo, atraĆdo para umas frutinhas, nĆ£o cuida de vistoriar o grau de seguranƧa do ambiente. OmissĆ£o resulta em desastres! Sim, hĆ” dois caminhos: o da solidariedade amiga e o do egocentrismo suicida; o da rotina e o do sonho compartilhado; o da mesquinhez consumista e o da solidariedade; o da doação e o do apego.
Aprenda eu a assumir a vida que levo, não temendo o confronto com limites pessoais e contradições circunstanciais. Aprenda eu a superar a auto-comiseração, aproveitando das oportunidades sem culpar outros por meus fracassos. Enfim, reconheça eu que viver é uma desafio nada fÔcil e que a maior dificuldade é sempre meu próprio modo de ser.
22 de junho de 2014
CELEBRAR A FĆ CRISTĆ NA PRĆTICA DO BEM
O que dĆ” qualidade Ć vida Ć© nossa FĆ© ā confianƧa e solidariedade. Nosso viver estĆ” sob o signo da bĆŖnção. A fĆ© nos engaja na confianƧa que imprime riqueza ao viver. Deus Ć© minha fortaleza, Nele hei de confiar.
FORTALEZA NA FĆ
Jesus navega em ondas que ainda sĆ£o bastante estranhas para seus discĆpulos. Enquanto ele se reconhece envolvido pelo amor do Pai e sob o impulso do Divino Sopro, os discĆpulos se mostram ansiosos nos desafios cotidianos. Ć preciso que se revistam da certeza confiante de que, sempre e em tudo, seu ir e vir estĆ” impregnado pela graƧa e sob uma luz que os acompanha.
Seguir Jesus garante que a claridade do dia expulsarĆ” as trevas de um eventual desamparo ou angĆŗstia. Se o Mestre chama a atenção deles em uma experiĆŖncia dolorosa ā escuridĆ£o ā eles se farĆ£o capazes de testemunhar nova coragem em plena luz do dia. Se hĆ” quem os possa ameaƧar corporalmente, espiritualmente eles estarĆ£o bem fortalecidos e nada os perturbarĆ”.
Eis o apelo: nĆ£o tenham medo, nĆ£o se percam em ninharias nem absolutizem aquilo que Ć© tĆ£o pequeno e passageiro. SĆ£o intimados a espelhar a fidelidade de seu Deus que cuida sempre do rebanho, apesar de tudo que possa acontecer de negativo. Estejam convencidos: āDeus estĆ” conosco, nossa fraqueza Ć© berƧo de uma grandeza divina. Nada haveremos de temerā.
Em clima de confiança, coragem não nos faltarÔ; um novo poder brotarÔ de dentro de nós; reconheceremos que, se Deus tem a ver com um fiapinho de capim ou um passarinho, podemos nós contar com ele. Seja este o testemunho: Nossos passos estão sob os cuidados de Deus, nossos projetos irradiam algo de seus sonhos, nossa presença reflete a sua grandeza.
CristĆ£os, discĆpulos de Jesus, somos convidados a seguir na trilha dos apóstolos, festejando a Salvação ao alcance de todos. Se, Ć s vezes, grande Ć© a inseguranƧa, uma nova oferta se faz convite. Se aflitos se julgam perdidos, a fĆ© os confirma na graƧa. HaverĆ” surpresa e gratidĆ£o por parte de todos. A vida se torna rica em novos frutos. A paz os envolve.
Frei ClƔudio van Balen
15 de junho de 2014
CELEBRAR A TRINDADE: UNIDADE NA PLURALIDADE
Participar do mistĆ©rio de Deus ā uno e trino. Vida e religiĆ£o, marcadas por diversidade, se aperfeiƧoam na unidade.O que nos dignifica Ć© ternura no acolhimento. Em famĆlia e sociedade, serviƧos de cooperação.
T R I N D A D E
PAI, FILHO, ESPĆRITO indicam o clima e a direção que Jesus imprimiu Ć sua vida-missĆ£o na uniĆ£o com āDeusā. Ele se considerava FILHO perante o PAI, sendo guiado por pelo ESPĆRITO. Agora, como seguidores desse Filho, a ābondadeā do Pai nos conduz pela criatividade ālibertadoraā do EspĆrito. Frente a esse Deus, ninguĆ©m pode fechar-se em si nem cultivar rigor, estagnação, medo ou exclusĆ£o.
Na trilha do Filho, inspiro-me no Pai que age em mim e por mim, caso eu o acolha na agilidade do āEspĆritoā - em meu ser e agir, em meu crer e relacionar. Eis que um dinamismo, com ālevezaā e poder transformador, passa a ser minha riqueza. Foi o que sucedeu com Jesus, irradiando a promissora beleza do ānovoā. āFilho amado, alegria de Deusā (Mc 1,9-11), irradia presenƧa e solicitude divinas.
āPaiā se faz garantia de aconchego (Lc 15,11ss); āFilhoā evoca intimidade com esse Deus-Pai ( ) e āEspĆritoā representa criatividade libertadora. (Lc.11,20). Pai, Filho e EspĆrito: mais do que evocar trĆŖs āpessoasā, salientam o trĆplice horizonte de nosso ser e viver na fĆ©. Esta, por conseguinte, requer abertura cósmica, respeito a diferenƧas, interligação entre tudo e todos no entrosamento entre divino e humano.
Requer ainda que sigamos nas trilhas de āJesusā ā em seu jeito de construir relaƧƵes frente a Deus e frente ao próximo. Dessa forma, a fĆ© nos capacita de ternura, compaixĆ£o e criatividade. Por conseguinte, reproduzimos em nossa vida de fĆ© algo da nobreza de Deus. Se o āPaiā se revela na gentileza de āfilhosā e esses agem na āversatilidadeā do āespĆritoā, Deus passa a revelar-se āumā - em e por tudo e todos
AtravĆ©s de Jesus ā āfilhoā - Deus se faz leveza, presenƧa amiga, longe de impor medo, mesquinhez e submissĆ£o. Como āfilhosā no amor āpaternoā somos impulsionados pelo sopro do āEspĆritoā. Eis o que suscita generosidade, alegria, coragem e confianƧa; e āsolidĆ”riosā, nos fazemos benfeitores, uns dos outros. Deus Ć© desaprisionado do ācĆ©uā para habitar no āĆntimoā de tudo e de todos - na terra.
Cabe a nós dar atenção ao PAI - na condição de FILHOS, graƧas Ć leveza do ESPĆRITO - sopro a marcar nosso ser, nosso crer e agir.
Aqui, a religiosidade é de comunhão-lbertação.
Frei ClƔudio van Balen
08 de junho de 2014
CELEBRAR A FĆ COM ESPĆRITO INOVADOR
Sob a ação do EspĆrito o conviver se renova. Ć o jeito de Jesus a nos comprometer com o bem comum. Pelo impulso da graƧa nos rejuvenescemos. O excluĆdo participa, o indiferente se mobiliza, o temeroso age. GraƧas ao EspĆrito, generosa colaboração.
PENTECOSTES
No āEspĆritoā, Deus se faz leveza, presenƧa e inclusĆ£o. Ele Ć© sempre āoutroā e próximo; envolvente e amoroso; sua grandeza inspira e eleva, sua jovialidade integra e transforma. Ao Deus-EspĆrito devemos nossa identidade, sobretudo no esforƧo de, maleĆ”veis e solidĆ”rios, nos comunicar sem jamais nos impingir e nos fazer donos do que e de quem quer que sejam, imprimindo suave atração Ć fĆ©.
āO EspĆrito paira sobre a Criaçãoā e, nela, se insere sem se aprisionar no mais forte ou se perder no mais frĆ”gil e paradoxal. Ele nos preserva das ameaƧas e artimanhas do poder com exclusĆ£o, mergulhando-nos em ondas de confianƧa e dedicação. Na condição de Ruach: āsoproā - Deus se apresenta suave, atraente e consolador. Como EspĆrito se mostra prenhe de suavidade com tolerĆ¢ncia e sem legalismo.
PaciĆŖncia para com resistentes e questionamento perante teimosos.O EspĆrito testa acomodados, reconduz extraviados, encanta puros e impulsiona sonhadores. Como tal, Deus se aloja no vazio transformador da ação criadora. AbraƧa grandes e pequenos, santos e pecadores. Ele tambĆ©m educa na abertura, faz que valorizemos colaboração, a fim de nos tornar fatores de presenƧa, de acrĆ©scimo de compaixĆ£o.
No EspĆrito, Deus nos familiariza com seu jeito de compassivo e paciente, com seu generoso empenho em nos elevar e aproximar, visando Ć harmonia com paz para o bem comum na convivĆŖncia. Como EspĆrito, critica orgulhosos e anima medrosos; compromete bondosos com retidĆ£o e generosidade e faz devotos crescer em sabedoria e coragem. Questiona amantes da tradição e inspira adeptos do novo.
O EspĆrito Consolador suscita em nós doação e confianƧa; alegria na espera, perseveranƧa na luta. Ele suaviza o que Ć© duro e quebra o que Ć© rĆgido; amplia a visĆ£o de quem se apega a coisas e confirma a riqueza de relaƧƵes abertas. GraƧas ao Deus - EspĆrito, superamos medo de liberdade, somos familiarizados com autonomia, com alegria no crer, com seguranƧa no viver.
Frei ClƔudio van Balen
01 de junho de 2014
CELEBRAR ASCENSĆO: NO VAZIO, MISTERIOSA PRESENĆA
A firmeza na fĆ© fĆ© gera frutos de transformação. Deus-Amor inserido na realidade, nos orienta na ação pastoral. Coragem nĆ£o falta a quem assume desafios. Quem persiste, alcanƧa. DiscĆpulos de Jesus humanizam o existir.
ASCENSĆO
AscensĆ£o... A morte relativizada pela vida, o tempo familiarizado com o eterno, o visĆvel envolvido pelo invisĆvel, o efĆŖmero a refletir o permanente, o humano feito reflexo do divino, o desejo jĆ” contendo a prometido. A realidade prossegue a mesma, porĆ©m a parte assume o sabor do todo e na escuridĆ£o da morte brilha a claridade da luz perene. Graciosamente, reina a vida.
Ascensão... O morrer a conter e anunciar o viver, derrota como preço de vitória, pobreza esconderijo de riqueza, fraqueza revestida de poder, ausência impregnada por presença. No suor da luta, a leveza do preço; no obscuro do esperar, o festivo do prêmio antecipado. Se ainda hÔ um vazio, a plenitude se antecipa como garantia. à o ganho na perda, o divino no humano.
Ascensão... Se morte é berço de vida, aqui vida abraça a morte e derrota irradia vitória. Estranha lógica: Deus carece ser frÔgil para que, na criação, a grandeza real se revista de impotência. Alguns ainda com dúvida no coração? Duvidamos nós, até hoje: Um sementinha se faz berço de bilhões de células? Forte se mostra quem, frÔgil, padece mil obstÔculos e contradições?
Ascensão... Vitorioso não serÔ o clero pelo poder que ostenta, pelo hÔbito que veste, pela subjugação que impõe ao povo ou pela exclusão em que prende quem se extraviou. Rastro de grandeza deixarÔ ao dispor-se a servir os menos favorecidos; ao lavar os pés dos que jÔ não podem ir ao encontro dos outros nem se julgam dignos de se aproximar da mesa da a fraternidade.
Ascensão.... Marca presença quem se retira sob uma nuvem de serviços, sem nada exigir em retorno. Marca presença quem, na intimidade com Deus, é considerado filho, fazendo-se testemunha de vida de qualidade em prol de outros. Marca presença, quem, ligado ao infinito, tem em Deus a fonte do existir e do agir e do conviver, Feliz que crê: a morte se faz encontro.
Frei ClƔudio van Balen