top of page

Textos

CAMINHAR - PEREGRINAR

 

VIVER: FECUNDA MUTAƇƃO

 

Caminhar faz usufruir do que se avista - do mistĆ©rio que se traz no Ć­ntimo - aproximando a pessoa do aqui e agora. Caminhar Ć© um esforƧar-se, corporalmente, que muda o modo interior de avaliar e de agir. Peregrinar implica um fenĆ“meno corporal a nos enriquecer no ver, ouvir, enxergar, entender. sentir, cheirar, admirar e decidir. A pessoa – caminhando - entra em contato com a natureza que, por sua vez, a confronta com seu próprio Ć­ntimo.

 

O caminhar nos questiona, alivia, amplia nossa visĆ£o, nos liberta interiormente e nos faz sentir o MistĆ©rio que envolve tudo e todos. Ɖ pelos pĆ©s que atingimos mente e coração, mudamos o modo de ser e de nos relacionar com pessoas e coisas, com desafios e ideais no lidar com a vida. Liberta-nos de pequenas e grandes obsessƵes que nos dominam e, tambĆ©m, nos confronta com o divino – o mistĆ©rio que tudo e todos habita –questionando, sustentando e amadurecendo.

 

O peregrinar nos conscientiza do fato de que podemos existir; que somos todos iguais e de que as coisas não pretendem chamar tanto a atenção para si mesmas. HÔ algo mais em jogo, algo que em silêncio e simplicidade confirma que, no cotidiano, podemos existir vinculados a outros em situações variadas. Isso nos presenteia novos pontos de vista com perspectivas de fecunda criatividade. Caminhar purifica interiormente, confronta com a verdade e abre novas portas para o modo de existir, de relacionar e de agir.

 

A pessoa jÔ não se prende à sua própria limitação e ao seu imediatismo, com interesse limitado frente a problemas. Tudo que se lhe apresenta ao redor: pessoas, ruas, casas e prédios; situações, campos, Ôrvores e flores a insere no caminho que encanta com cheiros e valores a penetrarem no seu íntimo e nas suas relações. Também vilarejos, pessoas e grupos de participantes, com sua comunicação recíproca acima de línguas, hÔbitos, objetivos, proble-mas e sonhos contribuem para uma mudança interior e exterior.

 

Em tudo isso - por uma liberdade e verdade civilizantes - hÔ o que liberta de uma perspectiva estreita, como ainda de hÔbitos, crenças e visões políticas mesquinhas. A perspectiva é relativizada e cresce o interesse pelo que transporta as pessoas para fora, para muito além e acima de si, tornando-as indivíduos mais abertos, acolhedores e desprendidos. Isto lhes presenteia com uma nova, ampla e rica interioridade, liberta-as de si e as aproxima do diferente como indivíduos mais nobres, livres e promissores. O interesse próprio dilui e impõe-se lhes uma mentalidade ecumênica, uma atitude franca de colaboração. O espaço interior de cada um se faz mais amplo, mais receptivo, simpÔtico e encorajador.

 

NĆ£o hĆ” quem nĆ£o passe pela experiĆŖncia de uma mudanƧa – inovação interior - que torna a pessoa qual porta aberta, dando acesso a outrem e a uma nova forma de ver, sentir, saborear e escolher. O espaƧo pessoal se amplia e passa a ser ricamente habitado, mostrando que o modo de viver pode ser diferente, mais leve, acolhedor e bem mais fecundo.

 

Viver de modo novo e mais feliz e transformador é possível. Em resumo, a caminhada passa a ser uma meditação física, envolvente e social, preparando a pessoa para um modo diferente e mais fecundo de marcar presença na família e na sociedade; como também de cuidar melhor de si e de tantos que se é chamado a beneficiar. Todas as dimensões do ser humano são atingidas e enobrecidas; o seu íntimo abre um espaço novo com gentil e rica receptividade.

 

Graças ao caminhar, o humano mais profundo é atingido e se faz receptivo para iniciativas que tornam a vida mais fecunda, socializante e libertadora, menos exigente e mais satisfeita com o indispensÔvel. E eis a pessoa a peregrinar ou a caminhar, satisfeita com o que ela mesma é capaz de suportar. Desta forma, o viver se torna mais autêntico para si e, graças a ela, para outros. Quem ganha com isso é a convivência que tem na pessoa peregrina uma fecunda bênção a imprimir transformadora irradiação ao conviver.

 

F.Claudio - 14.08.2015

ESPƍRITO   RENOVADOR

(Pentecostes)  /  Textos: Atos 2,1-11; e JoĆ£o 20, 19-23:

 

Originalmente, Pentecostes era uma festa de colheita; depois tornou-se festa da AlianƧa no Sinai; festa da Torah, das ā€œDez Palavrasā€ (DecĆ”logo) que orientam a vida de fĆ© do povo. Hoje se fala de vento e fogo, de ruĆ­do e congraƧamento, de harmonia e abertura em meio Ć  realidade como manifestação do amor de Deus. O espĆ­rito de Jesus – seu jeito de ser e agir - irrompe nos discĆ­pulos, os  envolve e inspira. Se a PĆ”scoa traz a libertação do pecado e da morte, da opressĆ£o e do medo, Pentecostes gira em todo do amor, o novo Mandamento testemunhado por Jesus e que ecoa no coração de cada pessoa.

 

O Evangelho nos reporta ao primeiro dia da semana, os apóstolos ainda com medo nos coraƧƵes e com as portas trancadas, quando se convencem que, em e por Jesus, Deus Ć© perdĆ£o, solidariedade e paz. Ɖ preciso devolver a alegria aos excluĆ­dos e abandonados. Nossa verdade hĆ” de revestir-se de um sorriso, nossa avaliação hĆ” de gerar perdĆ£o, nossa religiosidade hĆ” de ligar-se Ć  vida e Ć s pessoas e, jamais, prioriza ordem, medo, vinganƧa e exclusĆ£o.

 

Agora, jĆ” nĆ£o se trata de lei, mas de espĆ­rito – o ā€œruahā€, sopro, chama simboliza a leveza de nosso Deus, o poder de seu amor. Toda rigidez seja abandonada, toda alienação banida. ā€œVenho para fazer novas todas as coisasā€. As pessoas nĆ£o existem em função do peso da lei, pois o objetivo da lei Ć© o bem-estar das pessoas, sua vida, suas relaƧƵes com boa qualidade. Todos terĆ£o de viver a partir de seu coração, de sua sensibilidade humanitĆ”ria, em vista de uma convivĆŖncia que se faz apelo e exercĆ­cio de solidariedade humanitĆ”ria.

       

O que, cada dia, temos de fazer, isso não consta, previamente, em prescrições e códigos, não depende simplesmente de ordens. A nova referência é Jesus, lição e exemplo para todos e de cujo espírito, indistintamente, participamos. Agora, hÔ um caminho de fé e bondade, de compaixão e solidariedade, de renovação e comunhão, de criatividade e participação. Pentecostes: lição exigente e promissora! Rica promessa, caminho seguro, lição sempre de novo a ser aprendida e testemunhada.

 

Somos lembrados de que o EspĆ­rito, em vez de usar a mediação de algo pesado em doutrinas, códigos de tradiƧƵes, em normas e disciplinas, ele traz a leveza do vento e o calor do fogo. E eis que a leveza envolve todos que ficam admirados;  a comunicação vence os obstĆ”culos das mais variadas ā€˜lĆ­nguas’ ou de sistemas legais para lidar, amorosamente, com vida, pessoas no ritmo de relaƧƵes. Sim, o EspĆ­rito vai direto ao Ć­ntimo do coração humano e, sem complicaƧƵes ou ameaƧas, toca diretamente todos, confrontando-os com a leveza integradora do amor divino.

       

JĆ” nĆ£o temos direito de temer o novo, nĆ£o hĆ” mais imposição com exclusĆ£o. Ɖ o sopro que nos conduz, ninguĆ©m o domina; nĆ£o sabemos de onde vem e menos ainda para onde nos leva, senĆ£o para vida mais plena, para convivĆŖncia mais participativa. Agora nĆ£o faz mais sentido haver discriminação entre cristĆ£os e judeus nem oposição entre gregos e romanos. Mulher e homem, pecador e justo, ateu e religioso podem reconhecer-se irmĆ£os; e devem valorizar-se, confraternizar-se sem direito de fazer acepção de pessoas. Esta Ć© a ponte de acesso a uma nova luz: ter fome da verdade e sede de justiƧa; sair do rigor de uma religiosidade ultrapassada e ir ao encontro dos outros para alcanƧar o frescor do novo.

 

Os arautos do medo, os diplomados no poder, os autores da exclusĆ£o, os incendiĆ”rios das fogueiras, os organizadores das cruzadas, os soldados das missƵes, os fanĆ”ticos da disciplina, os doutores da alienação, os senhores do infantilismo e os algozes da centralização correm risco de se fazer traidores do EspĆ­rito. Batizar-se no EspĆ­rito tem a ver com abertura, mobilidade, acolhida, renovação, espaƧo de participação e comunhĆ£o. O clima seja de confianƧa festiva e de uma permanente conversĆ£o. Nunca ninguĆ©m estĆ” pronto. Todos temos de renascer. Ɖ Pentecostes. A forƧa transformadora do  amor se faz dĆ”diva e oferta.

 

Pelo EspĆ­rito somos católicos; isto Ć©, globalizados, universais; nĆ£o de uma categoria só, mas todos unidos no amor que transcende fronteiras. Dispomo-nos a ir em direção, uns dos outros. AtĆ© mesmo ao encontro dos que estĆ£o fora de algum esquema ou norma: judeus, pecadores, recasados, ateus, católicos, espĆ­ritas, evangĆ©licos, agnósticos, budistas, islĆ¢micos. Todos, tocados pela gratuidade divina, somos convidados Ć  Mesa do Amor que renova,  inclui e rejuvenesce. A irrupção do EspĆ­rito só Ć© ameaƧa para os amantes da lei, para os de coração tacanho, para os refĆ©ns do poder.

       

Renascer do EspĆ­ritoā€... NĆ£o foi nada fĆ”cil para Paulo e Pedro, e continua sendo difĆ­cil para Papas, para Bispos e padres, para cada um de nós. Pentecostes se refere a todos, indistintamente. Fala de um fogo que pousa sobre cada um, a fim de que abandonemos nosso aprisionamento, acima de religiĆ£o, nacionalidade, cultura e outras escolhas particulares. Eis o grande e verdadeiro milagre: todos e cada um em particular somos abordados por Deus, envolvidos por seu amor, conduzidos por sua sabedoria como participantes das maravilhas que seu EspĆ­rito realiza.

 

Pentecostes é a festa da diversidade em busca da integração, da unidade com expressões multifacetadas. Aqui, o dinamismo da fé derruba muros e constrói pontes. Pentecostes é a festa da humanidade que depõe as armas, desiste de ver no diferente um inimigo e transforma o poder em uma mobilização geral para renovar as relações. Pentecostes simboliza a Paz Universal, a Humanidade toda em Deus.

Pentecostes Ć© a nova Lei do EspĆ­rito que nos dĆ” uma coesĆ£o interior: a fĆ© se torna braƧo, a esperanƧa se faz coragem e o amor se revela porta aberta a acolher os diferentes. Pentecostes Ć© o ensaio de sempre. Vamos recomeƧar. Nunca Ć© tarde. A hora Ć© agora.  De ora em diante, o decisivo serĆ” este "sopro" do EspĆ­rito. Ele Ć© "a alma da Igreja"; o coração de nossa vida de fĆ©.  Nesta Celebração, selemos a AlianƧa – Deus conosco, em tudo, para sempre. Assim seja!

ESPERANƇA – HĆ”, entre nós, pessoas que se deixam impelir pela esperanƧa. Com fĆ©, rezam: ā€œSe nĆ£o Ć© o Senhor que constrói a casa, pouco adianta o trabalho dos pedreiros.ā€
A vida nĆ£o comeƧa nem termina em cada um de nós. Mas, para desenvolver-se no todo que nos cerca, ela passa por nós e precisa de nossa colaboração. Só assim, vida e história crescem; mas se nos omitimos, elas definham. Quem reconhece essa verdade, acolhe o germe da esperanƧa, que estĆ” na base,
na origem de todas as realizaƧƵes.

CRISTIANISMO – A essĆŖncia do Cristianismo estĆ” expressa na ā€œcruzā€, seu sĆ­mbolo por excelĆŖncia. Lembra a morte como gesto extremado de amor feito doação; lembra o mais generoso engajamento contra tudo o que ameaƧa, oprime e desvaloriza a vida e a pessoa humana; lembra a solidariedade com os pequenos e todos os que sofrem. Lembra, sobretudo,
a Ressurreição como plenitude de vida, oriunda do amor gratuito do Pai.

Enfim, lembra a comum-uniĆ£o entre o cĆ©u e a terra, entre a eternidade e o tempo, entre o espĆ­rito e a
matƩria, entre Deus e os Homens.

CARNAVAL – Originalmente, o Carnaval era um tempo de crĆ­tica sadia Ć  ordem social existente. Em clima de festa popular, dava-se vazĆ£o Ć  crĆ­tica contra as vaidades na vida social, polĆ­tica e religiosa. GraƧas a caricaturas, que funcionavam como espelho, os homens do poder eram confrontados com a falta de bom senso no desempenho cotidiano de suas tarefas. Mais do que nunca precisamos desse Carnaval, porque as pessoas levam-se demasiadamente a sĆ©rio. Afinal palhaƧos e loucos sĆ£o todos que, no palco da história, perseguem autoridade, posse, fama, poder e status, como se fossem fonte autĆŖntica de felicidade e paz. Se o Carnaval se deturpou, vamos permitir que uma leitura, encontro ou meditação mostrem, com clareza, que a sabedoria deste mundo Ć© loucura...

IGREJA PROFƉTICA – Comunidade de irmĆ£os sempre em busca de vida melhor para todos, ou instituição autoritĆ”ria em torno de dogmas e disciplinas? IrmĆ£ sensĆ­vel a todo apelo de
colaboração libertadora, ou doutora autosuficiente, distante da efervescĆŖncia histórica? Escola de espiritualismo que paira
acima dos fatos, ou pedagoga de uma fĆ©-compromisso dentro do existir politizado? ServiƧo generoso a favor da paz entre classes e povos, ou combate permanente contra desvios de crenƧas e comportamentos? Impulso missionĆ”rio que irradia a novidade evangĆ©lica, ou repetidora acomodada de liƧƵes jĆ” ultrapassadas?

A VIDA EM COMUNIDADE Ć© o melhor antĆ­doto contra a forƧa corrosiva do individualismo prepotente. De fato, a vivĆŖncia comunitĆ”ria, baseada na participação e ligada aos objetivos de uma crescente comunhĆ£o, supera o individualismo, pelo esforƧo de superar problemas, suscitar lealdade coletiva, compromisso, solidariedade e ternura.
Requer-se resistĆŖncia contra a fatalidade de eventos trĆ”gicos que, porventura, nos sucedem. NĆ£o podemos, simplesmente, nos resignar com tudo que nos acontece. Carecemos da ALEGRIA da novidade, capaz de nos libertar do conformismo e de nos estimular a transformar situaƧƵes e a dinamizar o exercĆ­cio de esponsabilidades.
Jesus sabia envolver-se com os outros, mostrando-se capaz de socorrer as pessoas na fragilidade de sua condição pessoal e social. (Mat. 9,36)

Ɖ o que se chama MISERICƓRDIA. Trata-se da virtude
que faz arriscar o confronto com a vulnerabilidade do outro, enquanto familiariza com a própria pequenez e grandeza. O que hĆ” de mais nobre no ser humano Ć© essa sensibilidade pelo outro, em sua dor, carĆŖncia e sofrimento. Mas ela pode corromper-se facilmente. Misericórdia sem prĆ”xis Ć© sentimentalismo alienante,
como eficiĆŖncia somente funcional nĆ£o passa de voluntarismo desumano ou de abuso paternalista do poder.

EXCELÊNCIA DO HUMOR – ƀ guisa de um tĆ“nico, o bom humor equilibra, estimula, alivia e relativiza a nossa participação nas agitadas peripĆ©cias da vida cotidiana.
Suscita um estado de Ć¢nimo que garante ao comportamento a capacidade de defender e de promover consistĆŖncia e saĆŗde na dimensĆ£o psĆ­quica e social do existir. A seriedade balofa do raciocĆ­nio lógico tende a isolar fatos e situaƧƵes. Ao revelar a comicidade escondida em tudo e em todos, o humor faz abrir brechas na rigidez de ideologias e dogmatismos, salva da acidez de extremismos.

NATAL, HOJE E SEMPRE

 

Natal convoca todos para integrar o

sagrado no profano.

Motivar para a cidadania Ć© o sentido do Natal.

Servir a Deus no próximo é valorizar o Natal.

Semear bênçãos no cotidiano faz

acontecer o Natal.

 

Natal: em infância e velhice, Deus se faz oferta.

Confraternizar o viver Ć© partilhar o amor do Natal.

Natal se atualiza em gestos de promover excluĆ­dos.

Exercer a dignidade de cidadãoé valorizar o Natal.

 

Natal se realiza no socorroa os esquecidos

e ignorados.

Natal se festeja ao aquecer relaƧƵes fraternas.

Ao nos solidarizar em desafios

celebramos o Natal.

Ternura no serviƧo do poder enobrece o Natal.

Conscientizar da responsabilidadeƩ

ensaiar o Natal.

 

Natal se realiza por unir pessoas e partilhar bens.

Assumir a vida em seus desafiosƩ concluir o Natal.

Ao envolver outros no perdão, acontece o Natal.

Celebrar a gratidão é aplaudir o Natal.

 

Natal convoca e educa para construir igualdade.

Natal Ʃ braƧo estendido, horizonte ampliado.

Ao se promover amor e justiƧa, anuncia-se o Natal.

Natal nos mobiliza a fim de investir nossos dons.

 

Natal pede que, zelosos, demos rumo ao viver.

Sem diminuir oposiƧƵes, deturpamos

o sentido do Natal.

Reconciliados no bem fazer, solenizamos o Natal.

 

Natal confraterniza pacƭficos e pacifica adversƔrios.

N A T A L

 

Natal, fonte de belo sonho,

chega alinhavando lembranƧas;

carrega faceiro o embrulho da vida,

ofertando a bênção de viver feliz.

 

Natal, momento passageiro,

mistério até o último sempre;

banha de luz todas as feridas,

na alegria distribuindo presentes.

 

 Natal, espaƧo de silĆŖncio,

atraindo segredos do Deus amigo;

noite misteriosa, repleta de magia,

danƧando no deslizar da eternidade.

 

Natal, nobre cumplicidade divina.

Assume próximos e distantes,

aniversariando o nascer de cada um.

Deus, no mundo – luz para todos.

 

Natal, berƧo de esperanƧa e paz;

menino embalado por tantos.

Reveste de cumplicidade o universo,

com amor em clima de festa.

 

Participar do infinito no arcabouƧo do finito.

Gerar Deus na espiritualidade do cotidiano.

Valorizar a dignidade de cada pessoa.

Combater toda forma de exclusão.

Festejar um amor sem fronteiras.

Solidarizar-se com os indefesos.

Dispensar um Deus justiceiro.

Oferta para todos no amor.

Nosso aliado, cĆŗmplice.

 

                                                                  

 

VIVER A SALVAƇƃO

 

Na presenƧa de Deus, sentir-se em casa,

ajudar outros a se tornar uma brasa.

 

Revestir de aconchego e seguranƧa

quem, aflito, ainda carece de bonanƧa.

 

Valorizar pessoas, solidarizar relaƧƵes;

imergir em divina luz, dissolver solidƵes.

 

Fazer-se correnteza em gotas do divino,

e superar os passos de pequenino.

 

Cheio de graça em serviço de rica bênção,

suscitar em muitos alegre canção.

 

Generoso e criativo em doação de amor,

iniciar cooperação apesar de alguma dor.

 

Em graƧa abundante, recolher-se no amor

e, em gratuidade, ofertar uma flor.

 

Espelhar-se no rosto de Deus, virado para nós;

alegrar-se na pertença, nunca sentir-se a sós.

 

Viver em clima de paz e liberdade;

nunca duvidar: a vitória serÔ da bondade.

 

Capazes de Deus, em Jesus sempre vitoriosos;

ao findar a caminhada, ainda gloriosos.

 

Sim, em Deus-Pai, filhos nos reconhecemos;

revestidos do EspĆ­rito sempre viveremos.

 

Ser muito mais do que conseguimos ser;

e, no coração de Deus, felizes agradecer.

                                       

Missa do dia 18.05.14

 

 

A S C E N S ƃ O

 

A morte-ressurreição de Jesus consagrou a aprendizagem de seus discĆ­pulos(as). De um lado, a ReligiĆ£o do Dever com tradição; do outro lado, a ReligiĆ£o do Reino com vida de qualidade. Ali, devoƧƵes: oração, jejum, esmola; aqui, a gratuidade–compaixĆ£o, entrega confiante, gestos de lava-pĆ©s. De um lado, a observĆ¢ncia legal, justiƧa-cobranƧa com exclusĆ£o; do outro lado, o amor–perdĆ£o com inclusĆ£o.

 

A mudanƧa havia sido grande demais para ser assimilada na breve duração da convivĆŖncia, cruelmente interrompida. DesĆ¢nimo pela frustração. Dera tudo errado. A Escola de Sonho se fez experiĆŖncia de derrota.  No fim, a morte. A casa desmoronou. Por alguns dias. A perda se fez confronto com riqueza incomum; desĆ¢nimo se fez limiar da grande descoberta. O testemunho de Jesus passou a brilhar.

 

MudanƧa radical. O ā€œespĆ­rito de Jesusā€ os impele. NĆ£o como doutores da lei nem como mestres de disciplina, porĆ©m como ā€œtestemunhasā€ de um amor que transpƵe as fronteiras de culpa, medo e exclusĆ£o. A inclusĆ£o Ć© o objetivo. O Pai em mim, eu no Pai; vós em mim, eu em vós. Todos, um só. A ComunhĆ£o. Barreiras sĆ£o eliminadas, muros derrubados, portas abertas. NĆ£o hĆ” judeu nem grego.

 

No sonho de Jesus o ā€œrenascerā€: respeito, compaixĆ£o, acolhida, lava-pĆ©s - comunhĆ£o graƧas Ć  participação. CĆ©u e terra congregados no amor que confraterniza, transforma, liberta. O objetivo Ć© a festa em torno da Mesa. AscensĆ£o. NĆ£o Ć© Jesus que sobe para o cĆ©u; a terra estremece pelo convite de acolher o cĆ©u. NĆ£o podemos mais fugir do sonho. A missĆ£o Ć©: fazer a terra habitĆ”vel para todos.

 

A religiĆ£o, em matizes variados, hĆ” de mostrar-se acolhedora; o poder se despoje de vaidade e prepotĆŖncia e se faƧa serviƧo libertador. Na convivĆŖncia, grandes se ponham de joelhos, valorizando os pequenos. Ɖ AscensĆ£o. Em Jesus, o Deus que desce. Ele promove todos atravĆ©s de nós – Estado, Escola, FamĆ­lia e Igreja. AscensĆ£o: o coração humano navega no sopro do EspĆ­rito a serviƧo da BOA NOVA.  

RELIGIƃO INSERIDA NA VIDA.

 

 

 

 

VIDA SOB NOSSOS CUIDADOS

Partes no Todo

 

Outono. Os dias encurtando, vegetação a encolher-se;

clima frio, vida embrulhada, natureza em descanso – aparentemente – preparando-se para o futuro - o renascer.

Por que, então, perder-se no presente?

AtƩ o negativo Ʃ roupagem de promessa. Sempre foi - assim serƔ.

 

Não é a alternância de estações uma forma de humildade

a conter uma fecunda promessa? De fato, somos quais ā€˜folhas’

de Ôrvore, hoje balançando no alto, amanhã prostradas no chão, abrindo espaço para futuras gerações. Gratos ao efêmero na vida,

sejamos acolhedores do milagre que reinicia. Finitude abenƧoada.

 

Pior seria, caso assim não fosse: definharíamos sem função

para o futuro. Se a história deve tanto a nós, a natureza nos sustenta, enquanto a vida vale pela felicidade do bem-estar.

Certo Ć© que nosso existir se artificializou bastante.

O planeta nos hƔ de ameaƧar e atƩ o clima se desequilibrar?

A tecnologia nos confronta com o que tanto abominamos:

terremotos, guerras, violĆŖncias, desastres -

irresponsabilidades cidadãs, políticas e sociais.

 

Formas tantas de desrespeito, de exclusão e de crueldade.

Para muitos a degradação aumenta, a vida se mostra violenta

e, havendo ameaƧas de toda espƩcie, mesmo assim, nosso mundo

Ć© melhor que em todos os tempos que nos precederam.

 

Se as folhas caiam da Ɣrvore, ficando essa exposta em sua nudez,

no interior da mesma nova vida germina promissora.

Na convivĆŖncia, os direitos progrediram, a natureza Ć© tratada

com mais respeito, o nĆ­vel da vida em geral tem melhorado.

No começo do século XX, éramos 1 bilhão; em 2050 seremos

quase 10 bilhões. Nos primeiros 18 séculos da era cristã,

o nƭvel de vida e a mƩdia de idade permaneceram iguais.

 

Como era difĆ­cil e sofrida a vida de nossos antepassados!

De tudo que, hoje, nos castiga e ameaƧa, pouco restarƔ.

Afinal, temos alguma semelhanƧa com as folhas secas de Ɣrvore,

que o vento usa como brinquedo no chão.

PorƩm, somos mais, bem mais, sobretudo ao nos fazermos

promessa para o futuro, mostrando-nos responsƔveis.

 

Afinal, o planeta Terra Ć© nossa ā€˜MĆ£e’. ComeƧou hĆ” quase

14 bilhƵes de anos!  Devemos tudo a estrelas, que pereceram

bilhƵes de anos atrƔs. Surgiu a matƩria, aglomerando-se e girando,

dando origem a bilhƵes de galƔxias com suas estrelas

que ninguƩm conta. HƔ quase 5 bilhƵes de anos surgiu o sol

e seus planetas, entre eles a ā€˜terra’, nossa mĆ£e, coberta de Ć”gua.

Sua atmosfera Ć© rica em oxigĆŖnio que nos protege dos bombardeios

da radiação solar e dos raios cósmicos. Isso possibilita a vida

que explode em uma criatividade infinita,

usando o presente para criar o futuro.

Esquecidos de nossas origens, nos mostramos ingratos e rebeldes.

OxalÔ nos façamos alunos agradecidos da História,

não só da natureza, mas também da civilização.

Elas são as mais valiosas mães, sem elas nossa mãe nem existiria.

 

Frei ClĆ”udio  van Balen

Cfr: A.C.Sponville, Comme les feuilles des arbres, Le Monde des Religions 2013, p.82

M. Gleiser, Pai Cosmo, mãe Terra, FSP, 11/05/14

ABENƇOADO

 

Salvação é graça-oferta,

- atravƩs de tudo e todos -

chega mim e me envolve.

Ou não passa de ledo engano

com a dor me confronta.

 

Bem-Aventurado eu me sinta,

sempre, graƧas Ơ realidade;

ou eu mesmo me aprisiono

no inferno que só eu escolho.

Sim, felicidade sinto ou desgraƧa.

 

Querer merecer a Salvação,

fazer da perfeição um mérito?

No mínimo é ignorância;

no mƔximo, Ʃ loucura.

Agraciado me sinta, em tudo.

 

Sonho de loucura Ć© salvar-me;

conquistar o que jĆ” possuo.

Tornar-me o que jĆ” sou?

Ɖ de graƧa que impera a bĆŖnção.

No dia a dia, eu seja o que sou!

 

Só a mim cabe escolher:

viver bem-aventurado ou não.

Preferir a angĆŗstia Ć  felicidade?

Priorizar o bem-estar Ơ desgraƧa.

Mergulhar no paraĆ­so ou no inferno.

A mim, a escolha; desde jĆ”.

25 / 05 / 2014

 

 PRESƉPIO – GRANDEZA SIMPLES

 

No passado, em meio ao luxo da Igreja,

Francisco propƓs sobriedade.

A partir de então, vigora a versão de que

Jesus nasceu em um ā€˜estĆ”bulo’,

sendo que o próprio Francisco

abandonara o luxo da casa paterna.

HÔ, no relato, algo que não

aconteceu – gruta...– porĆ©m Ć© ā€˜verdade’,

da mesma forma, tanto para Francisco

como para Jesus – na pobreza que abraƧaram.

 

Algo assim com relação a Maria:

envolvida pelo EspĆ­rito,

ela engravidou, nosentido de que seu filho,

Ć  luz da fĆ©, se revelou ā€˜filho’ de Deus 

de tĆ£o marcadopelo espĆ­rito ā€˜divino’.

ƀ luz da fĆ©, hĆ” gratuidade divina em toda concepção,

sendo que a ā€˜vida’ emana do mistĆ©rio de Deus.

E isso vale para toda pessoaque, neste mundo,

nasce de pai e mãe. Sim, aqui, hÔ algo mais.

 

Na história do povo judeu,

hĆ” narrativas sobre pessoas que

nasceram de mães inférteis ou

idosas demais para poder gerar filhos.

O que parece impossĆ­vel ā€˜acontece’.

Ɖ para salientar que a crianƧa nascida

Ć© alguĆ©m com missĆ£o muito ā€˜especial’.

AliÔs, o povo judeu se originou de Abraão e Sara,

muito idosos; Ć© o que simboliza

e confirma sua pertenƧa ao ā€˜Povo de Deus’.

 

Jesus, sendo especial,

tem de ser gerado de forma singular.

Se profetas nascem de mães estéreis,

Jesus nasce de mãe virgem:

não por vontade de um homem,

mas pela vontade de Deus,

como escreve o evangelista João.

Tal circunstância simboliza o que

Jesus realmente Ć©: Emanuel – Deus-conosco.

Eis a lição: ao servir uns a outros,

somos de fato ā€˜filhos de Deus’.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

bottom of page