
Frei ClƔudio van Balen
FĆ© e Cidadania

Textos
CAMINHAR - PEREGRINAR
VIVER: FECUNDA MUTAĆĆO
Caminhar faz usufruir do que se avista - do mistĆ©rio que se traz no Ćntimo - aproximando a pessoa do aqui e agora. Caminhar Ć© um esforƧar-se, corporalmente, que muda o modo interior de avaliar e de agir. Peregrinar implica um fenĆ“meno corporal a nos enriquecer no ver, ouvir, enxergar, entender. sentir, cheirar, admirar e decidir. A pessoa ā caminhando - entra em contato com a natureza que, por sua vez, a confronta com seu próprio Ćntimo.
O caminhar nos questiona, alivia, amplia nossa visĆ£o, nos liberta interiormente e nos faz sentir o MistĆ©rio que envolve tudo e todos. Ć pelos pĆ©s que atingimos mente e coração, mudamos o modo de ser e de nos relacionar com pessoas e coisas, com desafios e ideais no lidar com a vida. Liberta-nos de pequenas e grandes obsessƵes que nos dominam e, tambĆ©m, nos confronta com o divino ā o mistĆ©rio que tudo e todos habita āquestionando, sustentando e amadurecendo.
O peregrinar nos conscientiza do fato de que podemos existir; que somos todos iguais e de que as coisas não pretendem chamar tanto a atenção para si mesmas. HÔ algo mais em jogo, algo que em silêncio e simplicidade confirma que, no cotidiano, podemos existir vinculados a outros em situações variadas. Isso nos presenteia novos pontos de vista com perspectivas de fecunda criatividade. Caminhar purifica interiormente, confronta com a verdade e abre novas portas para o modo de existir, de relacionar e de agir.
A pessoa jĆ” nĆ£o se prende Ć sua própria limitação e ao seu imediatismo, com interesse limitado frente a problemas. Tudo que se lhe apresenta ao redor: pessoas, ruas, casas e prĆ©dios; situaƧƵes, campos, Ć”rvores e flores a insere no caminho que encanta com cheiros e valores a penetrarem no seu Ćntimo e nas suas relaƧƵes. TambĆ©m vilarejos, pessoas e grupos de participantes, com sua comunicação recĆproca acima de lĆnguas, hĆ”bitos, objetivos, proble-mas e sonhos contribuem para uma mudanƧa interior e exterior.
Em tudo isso - por uma liberdade e verdade civilizantes - hĆ” o que liberta de uma perspectiva estreita, como ainda de hĆ”bitos, crenƧas e visƵes polĆticas mesquinhas. A perspectiva Ć© relativizada e cresce o interesse pelo que transporta as pessoas para fora, para muito alĆ©m e acima de si, tornando-as indivĆduos mais abertos, acolhedores e desprendidos. Isto lhes presenteia com uma nova, ampla e rica interioridade, liberta-as de si e as aproxima do diferente como indivĆduos mais nobres, livres e promissores. O interesse próprio dilui e impƵe-se lhes uma mentalidade ecumĆŖnica, uma atitude franca de colaboração. O espaƧo interior de cada um se faz mais amplo, mais receptivo, simpĆ”tico e encorajador.
NĆ£o hĆ” quem nĆ£o passe pela experiĆŖncia de uma mudanƧa ā inovação interior - que torna a pessoa qual porta aberta, dando acesso a outrem e a uma nova forma de ver, sentir, saborear e escolher. O espaƧo pessoal se amplia e passa a ser ricamente habitado, mostrando que o modo de viver pode ser diferente, mais leve, acolhedor e bem mais fecundo.
Viver de modo novo e mais feliz e transformador Ć© possĆvel. Em resumo, a caminhada passa a ser uma meditação fĆsica, envolvente e social, preparando a pessoa para um modo diferente e mais fecundo de marcar presenƧa na famĆlia e na sociedade; como tambĆ©m de cuidar melhor de si e de tantos que se Ć© chamado a beneficiar. Todas as dimensƵes do ser humano sĆ£o atingidas e enobrecidas; o seu Ćntimo abre um espaƧo novo com gentil e rica receptividade.
Graças ao caminhar, o humano mais profundo é atingido e se faz receptivo para iniciativas que tornam a vida mais fecunda, socializante e libertadora, menos exigente e mais satisfeita com o indispensÔvel. E eis a pessoa a peregrinar ou a caminhar, satisfeita com o que ela mesma é capaz de suportar. Desta forma, o viver se torna mais autêntico para si e, graças a ela, para outros. Quem ganha com isso é a convivência que tem na pessoa peregrina uma fecunda bênção a imprimir transformadora irradiação ao conviver.
F.Claudio - 14.08.2015
ESPĆRITO RENOVADOR
(Pentecostes) / Textos: Atos 2,1-11; e João 20, 19-23:
Originalmente, Pentecostes era uma festa de colheita; depois tornou-se festa da AlianƧa no Sinai; festa da Torah, das āDez Palavrasā (DecĆ”logo) que orientam a vida de fĆ© do povo. Hoje se fala de vento e fogo, de ruĆdo e congraƧamento, de harmonia e abertura em meio Ć realidade como manifestação do amor de Deus. O espĆrito de Jesus ā seu jeito de ser e agir - irrompe nos discĆpulos, os envolve e inspira. Se a PĆ”scoa traz a libertação do pecado e da morte, da opressĆ£o e do medo, Pentecostes gira em todo do amor, o novo Mandamento testemunhado por Jesus e que ecoa no coração de cada pessoa.
O Evangelho nos reporta ao primeiro dia da semana, os apóstolos ainda com medo nos coraƧƵes e com as portas trancadas, quando se convencem que, em e por Jesus, Deus Ć© perdĆ£o, solidariedade e paz. Ć preciso devolver a alegria aos excluĆdos e abandonados. Nossa verdade hĆ” de revestir-se de um sorriso, nossa avaliação hĆ” de gerar perdĆ£o, nossa religiosidade hĆ” de ligar-se Ć vida e Ć s pessoas e, jamais, prioriza ordem, medo, vinganƧa e exclusĆ£o.
Agora, jĆ” nĆ£o se trata de lei, mas de espĆrito ā o āruahā, sopro, chama simboliza a leveza de nosso Deus, o poder de seu amor. Toda rigidez seja abandonada, toda alienação banida. āVenho para fazer novas todas as coisasā. As pessoas nĆ£o existem em função do peso da lei, pois o objetivo da lei Ć© o bem-estar das pessoas, sua vida, suas relaƧƵes com boa qualidade. Todos terĆ£o de viver a partir de seu coração, de sua sensibilidade humanitĆ”ria, em vista de uma convivĆŖncia que se faz apelo e exercĆcio de solidariedade humanitĆ”ria.
O que, cada dia, temos de fazer, isso nĆ£o consta, previamente, em prescriƧƵes e códigos, nĆ£o depende simplesmente de ordens. A nova referĆŖncia Ć© Jesus, lição e exemplo para todos e de cujo espĆrito, indistintamente, participamos. Agora, hĆ” um caminho de fĆ© e bondade, de compaixĆ£o e solidariedade, de renovação e comunhĆ£o, de criatividade e participação. Pentecostes: lição exigente e promissora! Rica promessa, caminho seguro, lição sempre de novo a ser aprendida e testemunhada.
Somos lembrados de que o EspĆrito, em vez de usar a mediação de algo pesado em doutrinas, códigos de tradiƧƵes, em normas e disciplinas, ele traz a leveza do vento e o calor do fogo. E eis que a leveza envolve todos que ficam admirados; a comunicação vence os obstĆ”culos das mais variadas ālĆnguasā ou de sistemas legais para lidar, amorosamente, com vida, pessoas no ritmo de relaƧƵes. Sim, o EspĆrito vai direto ao Ćntimo do coração humano e, sem complicaƧƵes ou ameaƧas, toca diretamente todos, confrontando-os com a leveza integradora do amor divino.
JÔ não temos direito de temer o novo, não hÔ mais imposição com exclusão. à o sopro que nos conduz, ninguém o domina; não sabemos de onde vem e menos ainda para onde nos leva, senão para vida mais plena, para convivência mais participativa. Agora não faz mais sentido haver discriminação entre cristãos e judeus nem oposição entre gregos e romanos. Mulher e homem, pecador e justo, ateu e religioso podem reconhecer-se irmãos; e devem valorizar-se, confraternizar-se sem direito de fazer acepção de pessoas. Esta é a ponte de acesso a uma nova luz: ter fome da verdade e sede de justiça; sair do rigor de uma religiosidade ultrapassada e ir ao encontro dos outros para alcançar o frescor do novo.
Os arautos do medo, os diplomados no poder, os autores da exclusĆ£o, os incendiĆ”rios das fogueiras, os organizadores das cruzadas, os soldados das missƵes, os fanĆ”ticos da disciplina, os doutores da alienação, os senhores do infantilismo e os algozes da centralização correm risco de se fazer traidores do EspĆrito. Batizar-se no EspĆrito tem a ver com abertura, mobilidade, acolhida, renovação, espaƧo de participação e comunhĆ£o. O clima seja de confianƧa festiva e de uma permanente conversĆ£o. Nunca ninguĆ©m estĆ” pronto. Todos temos de renascer. Ć Pentecostes. A forƧa transformadora do amor se faz dĆ”diva e oferta.
Pelo EspĆrito somos católicos; isto Ć©, globalizados, universais; nĆ£o de uma categoria só, mas todos unidos no amor que transcende fronteiras. Dispomo-nos a ir em direção, uns dos outros. AtĆ© mesmo ao encontro dos que estĆ£o fora de algum esquema ou norma: judeus, pecadores, recasados, ateus, católicos, espĆritas, evangĆ©licos, agnósticos, budistas, islĆ¢micos. Todos, tocados pela gratuidade divina, somos convidados Ć Mesa do Amor que renova, inclui e rejuvenesce. A irrupção do EspĆrito só Ć© ameaƧa para os amantes da lei, para os de coração tacanho, para os refĆ©ns do poder.
Renascer do EspĆritoā... NĆ£o foi nada fĆ”cil para Paulo e Pedro, e continua sendo difĆcil para Papas, para Bispos e padres, para cada um de nós. Pentecostes se refere a todos, indistintamente. Fala de um fogo que pousa sobre cada um, a fim de que abandonemos nosso aprisionamento, acima de religiĆ£o, nacionalidade, cultura e outras escolhas particulares. Eis o grande e verdadeiro milagre: todos e cada um em particular somos abordados por Deus, envolvidos por seu amor, conduzidos por sua sabedoria como participantes das maravilhas que seu EspĆrito realiza.
Pentecostes é a festa da diversidade em busca da integração, da unidade com expressões multifacetadas. Aqui, o dinamismo da fé derruba muros e constrói pontes. Pentecostes é a festa da humanidade que depõe as armas, desiste de ver no diferente um inimigo e transforma o poder em uma mobilização geral para renovar as relações. Pentecostes simboliza a Paz Universal, a Humanidade toda em Deus.
Pentecostes Ć© a nova Lei do EspĆrito que nos dĆ” uma coesĆ£o interior: a fĆ© se torna braƧo, a esperanƧa se faz coragem e o amor se revela porta aberta a acolher os diferentes. Pentecostes Ć© o ensaio de sempre. Vamos recomeƧar. Nunca Ć© tarde. A hora Ć© agora. De ora em diante, o decisivo serĆ” este "sopro" do EspĆrito. Ele Ć© "a alma da Igreja"; o coração de nossa vida de fĆ©. Nesta Celebração, selemos a AlianƧa ā Deus conosco, em tudo, para sempre. Assim seja!

ESPERANĆA ā HĆ”, entre nós, pessoas que se deixam impelir pela esperanƧa. Com fĆ©, rezam: āSe nĆ£o Ć© o Senhor que constrói a casa, pouco adianta o trabalho dos pedreiros.ā
A vida não começa nem termina em cada um de nós. Mas, para desenvolver-se no todo que nos cerca, ela passa por nós e precisa de nossa colaboração. Só assim, vida e história crescem; mas se nos omitimos, elas definham. Quem reconhece essa verdade, acolhe o germe da esperança, que estÔ na base,
na origem de todas as realizaƧƵes.
CRISTIANISMO ā A essĆŖncia do Cristianismo estĆ” expressa na ācruzā, seu sĆmbolo por excelĆŖncia. Lembra a morte como gesto extremado de amor feito doação; lembra o mais generoso engajamento contra tudo o que ameaƧa, oprime e desvaloriza a vida e a pessoa humana; lembra a solidariedade com os pequenos e todos os que sofrem. Lembra, sobretudo,
a Ressurreição como plenitude de vida, oriunda do amor gratuito do Pai.
Enfim, lembra a comum-uniĆ£o entre o cĆ©u e a terra, entre a eternidade e o tempo, entre o espĆrito e a
matƩria, entre Deus e os Homens.
CARNAVAL ā Originalmente, o Carnaval era um tempo de crĆtica sadia Ć ordem social existente. Em clima de festa popular, dava-se vazĆ£o Ć crĆtica contra as vaidades na vida social, polĆtica e religiosa. GraƧas a caricaturas, que funcionavam como espelho, os homens do poder eram confrontados com a falta de bom senso no desempenho cotidiano de suas tarefas. Mais do que nunca precisamos desse Carnaval, porque as pessoas levam-se demasiadamente a sĆ©rio. Afinal palhaƧos e loucos sĆ£o todos que, no palco da história, perseguem autoridade, posse, fama, poder e status, como se fossem fonte autĆŖntica de felicidade e paz. Se o Carnaval se deturpou, vamos permitir que uma leitura, encontro ou meditação mostrem, com clareza, que a sabedoria deste mundo Ć© loucura...
IGREJA PROFĆTICA ā Comunidade de irmĆ£os sempre em busca de vida melhor para todos, ou instituição autoritĆ”ria em torno de dogmas e disciplinas? IrmĆ£ sensĆvel a todo apelo de
colaboração libertadora, ou doutora autosuficiente, distante da efervescência histórica? Escola de espiritualismo que paira
acima dos fatos, ou pedagoga de uma fƩ-compromisso dentro do existir politizado? ServiƧo generoso a favor da paz entre classes e povos, ou combate permanente contra desvios de crenƧas e comportamentos? Impulso missionƔrio que irradia a novidade evangƩlica, ou repetidora acomodada de liƧƵes jƔ ultrapassadas?
A VIDA EM COMUNIDADE Ć© o melhor antĆdoto contra a forƧa corrosiva do individualismo prepotente. De fato, a vivĆŖncia comunitĆ”ria, baseada na participação e ligada aos objetivos de uma crescente comunhĆ£o, supera o individualismo, pelo esforƧo de superar problemas, suscitar lealdade coletiva, compromisso, solidariedade e ternura.
Requer-se resistĆŖncia contra a fatalidade de eventos trĆ”gicos que, porventura, nos sucedem. NĆ£o podemos, simplesmente, nos resignar com tudo que nos acontece. Carecemos da ALEGRIA da novidade, capaz de nos libertar do conformismo e de nos estimular a transformar situaƧƵes e a dinamizar o exercĆcio de esponsabilidades.
Jesus sabia envolver-se com os outros, mostrando-se capaz de socorrer as pessoas na fragilidade de sua condição pessoal e social. (Mat. 9,36)
Ć o que se chama MISERICĆRDIA. Trata-se da virtude
que faz arriscar o confronto com a vulnerabilidade do outro, enquanto familiariza com a própria pequenez e grandeza. O que hÔ de mais nobre no ser humano é essa sensibilidade pelo outro, em sua dor, carência e sofrimento. Mas ela pode corromper-se facilmente. Misericórdia sem prÔxis é sentimentalismo alienante,
como eficiência somente funcional não passa de voluntarismo desumano ou de abuso paternalista do poder.
EXCELĆNCIA DO HUMOR ā Ć guisa de um tĆ“nico, o bom humor equilibra, estimula, alivia e relativiza a nossa participação nas agitadas peripĆ©cias da vida cotidiana.
Suscita um estado de Ć¢nimo que garante ao comportamento a capacidade de defender e de promover consistĆŖncia e saĆŗde na dimensĆ£o psĆquica e social do existir. A seriedade balofa do raciocĆnio lógico tende a isolar fatos e situaƧƵes. Ao revelar a comicidade escondida em tudo e em todos, o humor faz abrir brechas na rigidez de ideologias e dogmatismos, salva da acidez de extremismos.
NATAL, HOJE E SEMPRE
Natal convoca todos para integrar o
sagrado no profano.
Motivar para a cidadania Ć© o sentido do Natal.
Servir a Deus no próximo é valorizar o Natal.
Semear bênçãos no cotidiano faz
acontecer o Natal.
Natal: em infância e velhice, Deus se faz oferta.
Confraternizar o viver Ć© partilhar o amor do Natal.
Natal se atualiza em gestos de promover excluĆdos.
Exercer a dignidade de cidadãoé valorizar o Natal.
Natal se realiza no socorroa os esquecidos
e ignorados.
Natal se festeja ao aquecer relaƧƵes fraternas.
Ao nos solidarizar em desafios
celebramos o Natal.
Ternura no serviƧo do poder enobrece o Natal.
Conscientizar da responsabilidadeƩ
ensaiar o Natal.
Natal se realiza por unir pessoas e partilhar bens.
Assumir a vida em seus desafiosƩ concluir o Natal.
Ao envolver outros no perdão, acontece o Natal.
Celebrar a gratidão é aplaudir o Natal.
Natal convoca e educa para construir igualdade.
Natal Ʃ braƧo estendido, horizonte ampliado.
Ao se promover amor e justiƧa, anuncia-se o Natal.
Natal nos mobiliza a fim de investir nossos dons.
Natal pede que, zelosos, demos rumo ao viver.
Sem diminuir oposiƧƵes, deturpamos
o sentido do Natal.
Reconciliados no bem fazer, solenizamos o Natal.
Natal confraterniza pacĆficos e pacifica adversĆ”rios.
N A T A L
Natal, fonte de belo sonho,
chega alinhavando lembranƧas;
carrega faceiro o embrulho da vida,
ofertando a bênção de viver feliz.
Natal, momento passageiro,
mistério até o último sempre;
banha de luz todas as feridas,
na alegria distribuindo presentes.
Natal, espaço de silêncio,
atraindo segredos do Deus amigo;
noite misteriosa, repleta de magia,
danƧando no deslizar da eternidade.
Natal, nobre cumplicidade divina.
Assume próximos e distantes,
aniversariando o nascer de cada um.
Deus, no mundo ā luz para todos.
Natal, berƧo de esperanƧa e paz;
menino embalado por tantos.
Reveste de cumplicidade o universo,
com amor em clima de festa.
Participar do infinito no arcabouƧo do finito.
Gerar Deus na espiritualidade do cotidiano.
Valorizar a dignidade de cada pessoa.
Combater toda forma de exclusão.
Festejar um amor sem fronteiras.
Solidarizar-se com os indefesos.
Dispensar um Deus justiceiro.
Oferta para todos no amor.
Nosso aliado, cĆŗmplice.
VIVER A SALVAĆĆO
Na presenƧa de Deus, sentir-se em casa,
ajudar outros a se tornar uma brasa.
Revestir de aconchego e seguranƧa
quem, aflito, ainda carece de bonanƧa.
Valorizar pessoas, solidarizar relaƧƵes;
imergir em divina luz, dissolver solidƵes.
Fazer-se correnteza em gotas do divino,
e superar os passos de pequenino.
Cheio de graça em serviço de rica bênção,
suscitar em muitos alegre canção.
Generoso e criativo em doação de amor,
iniciar cooperação apesar de alguma dor.
Em graƧa abundante, recolher-se no amor
e, em gratuidade, ofertar uma flor.
Espelhar-se no rosto de Deus, virado para nós;
alegrar-se na pertença, nunca sentir-se a sós.
Viver em clima de paz e liberdade;
nunca duvidar: a vitória serÔ da bondade.
Capazes de Deus, em Jesus sempre vitoriosos;
ao findar a caminhada, ainda gloriosos.
Sim, em Deus-Pai, filhos nos reconhecemos;
revestidos do EspĆrito sempre viveremos.
Ser muito mais do que conseguimos ser;
e, no coração de Deus, felizes agradecer.
Missa do dia 18.05.14
A S C E N S Ć O
A morte-ressurreição de Jesus consagrou a aprendizagem de seus discĆpulos(as). De um lado, a ReligiĆ£o do Dever com tradição; do outro lado, a ReligiĆ£o do Reino com vida de qualidade. Ali, devoƧƵes: oração, jejum, esmola; aqui, a gratuidadeācompaixĆ£o, entrega confiante, gestos de lava-pĆ©s. De um lado, a observĆ¢ncia legal, justiƧa-cobranƧa com exclusĆ£o; do outro lado, o amorāperdĆ£o com inclusĆ£o.
A mudança havia sido grande demais para ser assimilada na breve duração da convivência, cruelmente interrompida. Desânimo pela frustração. Dera tudo errado. A Escola de Sonho se fez experiência de derrota. No fim, a morte. A casa desmoronou. Por alguns dias. A perda se fez confronto com riqueza incomum; desânimo se fez limiar da grande descoberta. O testemunho de Jesus passou a brilhar.
MudanƧa radical. O āespĆrito de Jesusā os impele. NĆ£o como doutores da lei nem como mestres de disciplina, porĆ©m como ātestemunhasā de um amor que transpƵe as fronteiras de culpa, medo e exclusĆ£o. A inclusĆ£o Ć© o objetivo. O Pai em mim, eu no Pai; vós em mim, eu em vós. Todos, um só. A ComunhĆ£o. Barreiras sĆ£o eliminadas, muros derrubados, portas abertas. NĆ£o hĆ” judeu nem grego.
No sonho de Jesus o ārenascerā: respeito, compaixĆ£o, acolhida, lava-pĆ©s - comunhĆ£o graƧas Ć participação. CĆ©u e terra congregados no amor que confraterniza, transforma, liberta. O objetivo Ć© a festa em torno da Mesa. AscensĆ£o. NĆ£o Ć© Jesus que sobe para o cĆ©u; a terra estremece pelo convite de acolher o cĆ©u. NĆ£o podemos mais fugir do sonho. A missĆ£o Ć©: fazer a terra habitĆ”vel para todos.
A religiĆ£o, em matizes variados, hĆ” de mostrar-se acolhedora; o poder se despoje de vaidade e prepotĆŖncia e se faƧa serviƧo libertador. Na convivĆŖncia, grandes se ponham de joelhos, valorizando os pequenos. Ć AscensĆ£o. Em Jesus, o Deus que desce. Ele promove todos atravĆ©s de nós ā Estado, Escola, FamĆlia e Igreja. AscensĆ£o: o coração humano navega no sopro do EspĆrito a serviƧo da BOA NOVA.
RELIGIĆO INSERIDA NA VIDA.
VIDA SOB NOSSOS CUIDADOS
Partes no Todo
Outono. Os dias encurtando, vegetação a encolher-se;
clima frio, vida embrulhada, natureza em descanso ā aparentemente ā preparando-se para o futuro - o renascer.
Por que, então, perder-se no presente?
AtƩ o negativo Ʃ roupagem de promessa. Sempre foi - assim serƔ.
Não é a alternância de estações uma forma de humildade
a conter uma fecunda promessa? De fato, somos quais āfolhasā
de Ôrvore, hoje balançando no alto, amanhã prostradas no chão, abrindo espaço para futuras gerações. Gratos ao efêmero na vida,
sejamos acolhedores do milagre que reinicia. Finitude abenƧoada.
Pior seria, caso assim nĆ£o fosse: definharĆamos sem função
para o futuro. Se a história deve tanto a nós, a natureza nos sustenta, enquanto a vida vale pela felicidade do bem-estar.
Certo Ć© que nosso existir se artificializou bastante.
O planeta nos hƔ de ameaƧar e atƩ o clima se desequilibrar?
A tecnologia nos confronta com o que tanto abominamos:
terremotos, guerras, violĆŖncias, desastres -
irresponsabilidades cidadĆ£s, polĆticas e sociais.
Formas tantas de desrespeito, de exclusão e de crueldade.
Para muitos a degradação aumenta, a vida se mostra violenta
e, havendo ameaƧas de toda espƩcie, mesmo assim, nosso mundo
Ć© melhor que em todos os tempos que nos precederam.
Se as folhas caiam da Ɣrvore, ficando essa exposta em sua nudez,
no interior da mesma nova vida germina promissora.
Na convivĆŖncia, os direitos progrediram, a natureza Ć© tratada
com mais respeito, o nĆvel da vida em geral tem melhorado.
No começo do século XX, éramos 1 bilhão; em 2050 seremos
quase 10 bilhões. Nos primeiros 18 séculos da era cristã,
o nĆvel de vida e a mĆ©dia de idade permaneceram iguais.
Como era difĆcil e sofrida a vida de nossos antepassados!
De tudo que, hoje, nos castiga e ameaƧa, pouco restarƔ.
Afinal, temos alguma semelhanƧa com as folhas secas de Ɣrvore,
que o vento usa como brinquedo no chão.
PorƩm, somos mais, bem mais, sobretudo ao nos fazermos
promessa para o futuro, mostrando-nos responsƔveis.
Afinal, o planeta Terra Ć© nossa āMĆ£eā. ComeƧou hĆ” quase
14 bilhƵes de anos! Devemos tudo a estrelas, que pereceram
bilhƵes de anos atrƔs. Surgiu a matƩria, aglomerando-se e girando,
dando origem a bilhƵes de galƔxias com suas estrelas
que ninguƩm conta. HƔ quase 5 bilhƵes de anos surgiu o sol
e seus planetas, entre eles a āterraā, nossa mĆ£e, coberta de Ć”gua.
Sua atmosfera Ć© rica em oxigĆŖnio que nos protege dos bombardeios
da radiação solar e dos raios cósmicos. Isso possibilita a vida
que explode em uma criatividade infinita,
usando o presente para criar o futuro.
Esquecidos de nossas origens, nos mostramos ingratos e rebeldes.
OxalÔ nos façamos alunos agradecidos da História,
não só da natureza, mas também da civilização.
Elas são as mais valiosas mães, sem elas nossa mãe nem existiria.
Frei ClƔudio van Balen
Cfr: A.C.Sponville, Comme les feuilles des arbres, Le Monde des Religions 2013, p.82
M. Gleiser, Pai Cosmo, mãe Terra, FSP, 11/05/14
ABENĆOADO
Salvação é graça-oferta,
- atravƩs de tudo e todos -
chega mim e me envolve.
Ou não passa de ledo engano
com a dor me confronta.
Bem-Aventurado eu me sinta,
sempre, graças à realidade;
ou eu mesmo me aprisiono
no inferno que só eu escolho.
Sim, felicidade sinto ou desgraƧa.
Querer merecer a Salvação,
fazer da perfeição um mérito?
No mĆnimo Ć© ignorĆ¢ncia;
no mƔximo, Ʃ loucura.
Agraciado me sinta, em tudo.
Sonho de loucura Ć© salvar-me;
conquistar o que jĆ” possuo.
Tornar-me o que jĆ” sou?
à de graça que impera a bênção.
No dia a dia, eu seja o que sou!
Só a mim cabe escolher:
viver bem-aventurado ou não.
Preferir a angĆŗstia Ć felicidade?
Priorizar o bem-estar à desgraça.
Mergulhar no paraĆso ou no inferno.
A mim, a escolha; desde jĆ”.
25 / 05 / 2014
PRESĆPIO ā GRANDEZA SIMPLES
No passado, em meio ao luxo da Igreja,
Francisco propƓs sobriedade.
A partir de então, vigora a versão de que
Jesus nasceu em um āestĆ”buloā,
sendo que o próprio Francisco
abandonara o luxo da casa paterna.
HÔ, no relato, algo que não
aconteceu ā gruta...ā porĆ©m Ć© āverdadeā,
da mesma forma, tanto para Francisco
como para Jesus ā na pobreza que abraƧaram.
Algo assim com relação a Maria:
envolvida pelo EspĆrito,
ela engravidou, nosentido de que seu filho,
Ć luz da fĆ©, se revelou āfilhoā de Deus
de tĆ£o marcadopelo espĆrito ādivinoā.
à luz da fé, hÔ gratuidade divina em toda concepção,
sendo que a āvidaā emana do mistĆ©rio de Deus.
E isso vale para toda pessoaque, neste mundo,
nasce de pai e mãe. Sim, aqui, hÔ algo mais.
Na história do povo judeu,
hĆ” narrativas sobre pessoas que
nasceram de mães inférteis ou
idosas demais para poder gerar filhos.
O que parece impossĆvel āaconteceā.
à para salientar que a criança nascida
Ć© alguĆ©m com missĆ£o muito āespecialā.
AliÔs, o povo judeu se originou de Abraão e Sara,
muito idosos; Ć© o que simboliza
e confirma sua pertenƧa ao āPovo de Deusā.
Jesus, sendo especial,
tem de ser gerado de forma singular.
Se profetas nascem de mães estéreis,
Jesus nasce de mãe virgem:
não por vontade de um homem,
mas pela vontade de Deus,
como escreve o evangelista João.
Tal circunstância simboliza o que
Jesus realmente Ć©: Emanuel ā Deus-conosco.
Eis a lição: ao servir uns a outros,
somos de fato āfilhos de Deusā.